Os dez fundos estrangeiros que se reuniram ontem com o vice-presidente Hamilton Mourão e alguns ministros colocaram cinco principais questões à mesa, todas envolvendo o clima e o desmatamento. Os fundos têm pressionado o governo nesses temas, sob a ameaça de retirada de investimentos do País.

Em teleconferência, representantes dos fundos solicitaram que o Brasil reduza suas taxas de desmatamento, demonstre esforços para cumprir o compromisso estabelecido com a Lei do Clima e aplique o Código Florestal.

Além disso, a lista trazida pelos fundos trouxe a necessidade de o Brasil dar acesso público aos dados do País relacionados ao desmatamento, cobertura florestal, posse e rastreabilidade de cadeias de commodities.

Por fim, solicitaram que as agências brasileiras tenham capacidade para cumprir a legislação ambiental e de direitos humanos, de forma a conseguirem cumprir seus mandatos com eficácia e para que consigam avançar em projeto de lei para a proteção de florestas. Os fundos foram ainda enfáticos ao pedirem a prevenção de “incêndios nas áreas florestais ou nas proximidades, a fim de evitar a repetição dos (incidentes) de 2019”.

Entre os fundos estavam o britânico Legal and General Investment Management, os suecos Nordea Asset Management, SEB Investment Management e AP2 Second Swedish National Pension Fund, os noruegueses Storebrand Asset Management e KLP, o holandês Robeco e o japonês Sumitomo Mitsui Trust Asset Management.

Colaboração

Em nota, o presidente do fundo Storebrand, Jan Erik Saugestad, disse que os fundos ficaram “animados” pela resposta inicial do governo brasileiro e com o diálogo na reunião desta quinta, 9. A nota pontua que, a partir de agora, os fundos aguardam uma continuidade das discussões e os resultados em relação aos assuntos propostos.

“É somente por meio da colaboração entre governos, empresas e investidores que podemos obter as mudanças necessárias. Isso marca um começo. Estamos convencidos de que sustentabilidade e desenvolvimento econômico andam de mãos dadas. Como instituições financeiras, vemos o desmatamento e os impactos associados à biodiversidade e às mudanças climáticas como riscos sistêmicos, com potencial para impactar negativamente os retornos. Atingir uma estrutura regulatória consistente, que a longo prazo protege a floresta é, portanto, do melhor interesse das empresas e dos investidores”, disse Saugestad.

O executivo lembra que os fundos têm dever fiduciário e que precisam agir com o olhar no longo prazo. “Reconhecemos o papel crucial que as florestas tropicais desempenham no combate às mudanças climáticas, protegendo a biodiversidade e assegurando serviços ecossistêmicos. Continuaremos a monitorar o Brasil para avaliar nossa exposição a riscos financeiros decorrentes do desmatamento”, disse.

O executivo disse ainda que o interesse dos fundos era de entender o posicionamento do Brasil em relação à proteção do seu “capital natural”, em especial de sua floresta tropical.

Fonte: O Estado de São Paulo