Depois de compensar as emissões de gases do efeito estufa da sua vinícola em Bento Gonçalves (RS), o irlandês Gordon Murphy, 31 anos, decidiu que era hora de tornar a coisa mais pessoal e compensar a própria pegada de carbono. Transporte, alimentação, bens consumidos, resíduos – tudo foi devidamente lançado na calculadora de uma plataforma de crédito de carbono. Ele descobriu ser responsável pelo equivalente a 5,7 toneladas de CO2 por ano.
“O maior fator de emissão, no meu caso, foi o transporte aéreo, por causa das viagens de avião para acompanhar a produção no Rio Grande do Sul e para visitar familiares na Irlanda”, explica Murphy, morador de São Paulo, que vai pagar R$ 52 por mês para a compensação total. “Achei bem barato. É o custo de uma assinatura mensal de serviço de streaming. E, com isso, estarei alinhado aos valores do meu próprio negócio.”
Murphy é representante de uma minoria que compensa a própria pegada de carbono. Esse grupo, porém, é crescente. Novas plataformas e ferramentas têm tornado mais simples e rápido para pessoas físicas acessarem o mercado de crédito de carbono, antes restrito a grandes negócios. Carbonext, EcoCart e Moss são algumas das que contribuem para o cálculo das emissões e fazem a ponte com projetos certificados e auditados de reflorestamento e proteção ambiental de florestas.
Gatilho
Depois de trabalhar por anos com clientes como iFood e Cielo, a brasileira Carbonext começou recentemente a ajudar pessoas físicas a zerar suas pegadas de carbono. A engenheira florestal Janaína Dallan, CEO da companhia, espera de 3 mil a 5 mil pessoas físicas em apenas um ano. “A pandemia foi um gatilho de conscientização”, afirma a executiva, acrescentando que a população está mais informada sobre temas como a Conferência do Clima, COP26. Normalmente, as pessoas que compensam as emissões são jovens na faixa de 20 a 30 anos, especialmente da região Sudeste, explica Luis Felipe Adaime, sócio da brasileira Moss. A plataforma tem “dezenas de milhares” de clientes pessoas físicas. “A geração mais jovem é, simplesmente, mais consciente e engajada do que as demais, sobretudo dos nossos pais e avós, os baby boomers (pessoas nascidas entre as décadas de 40 e 60”, resume Adaime.
Outra forma de compensação é diretamente no consumo. Lançada em agosto, a EcoCart importou um algoritmo do Vale do Silício, em São Francisco, que calcula as emissões de produtos do e-commerce. O algoritmo fica instalado nos carrinhos de compra e considera tamanho, peso e distância dos bens adquiridos, além das emissões da fabricação do produto. Na hora do pagamento, o cliente é avisado da pegada e pode compensá-la.
Engajamento
“Dos consumidores que veem o EcoCart no momento do checkout da compra, 30% efetivamente compensam. Temos três e-commerces oferecendo compensação e vamos adicionar mais três a cada mês”, explica Vasconcellos, acrescentando que o custo varia de 0,8% a 1,4% do valor do pedido. “As empresas, se desejarem, podem subsidiar o custo da compensação dos clientes, em vez de pagar completamente, o que ajuda a gerar maior conscientização.”
A produtora baiana Clarice Philigret compensou, recentemente, as emissões geradas por um biquíni comprado na internet. A compensação foi oferecida no momento do pagamento da compra. “O que eu fiz não foi uma doação. É compensar um dano que a gente causa quando consumimos. É uma forma de, no dia a dia, sermos menos agressivos com o meio ambiente”, diz Clarice, que tem adotado outras medidas para reduzir sua pegada de carbono, inclusive com um projeto de compostagem doméstica, processo de reciclagem do lixo orgânico.
Veja como calcular e compensar sua pegada de carbono
Calcule: Plataformas como Carbonext e Moss oferecem calculadoras para conhecer sua pegada de carbono (montante de gás carbônico emitido por meio dos seus hábitos).
Compense: Esses sites permitem compensar total ou parcialmente as emissões, inclusive de forma parcelada e com programas mensais. O valor depende das emissões calculadas, mas pode variar de R$40 a R$ 80 por mês.
Proteja: O crédito de carbono é comprado de projetos certificados e auditados que reflorestam ou protegem florestas na Amazônia e outras regiões, além de outros projetos. O crédito é bloqueado em nome do consumidor, para evitar dupla contagem.
Estadão – “Mercado de créditos de carbono está mais acessível para as pessoas físicas” – Veja a notícia na íntegra aqui.